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Inspiração

Com o objetivo de inspirar, estes adolescentes acabaram sendo inspirados

Este conto é baseado na experiência de outro educador e compartilho aqui no Precisa Cantar, Senhora?

Luciana trabalha como professora de canto coral em dois lugares distantes em 50km. Um é muito engajado entre os adolescentes e outro tem muitos problemas para captar os jovens, tendo maior influência entre o público infantil. Até que a professora tem a ideia de levar um grupo para cantar para o outro. Como isso se desdobrou?

Luciana é professora de canto coral em dois polos de uma ONG que oferece aulas de artes e empreendedorismo para crianças e adolescentes, chamados Cândido Portinari e Carlos Gomes, distantes 50 km um do outro.

 

O polo Carlos Gomes tem duas turmas somente de adolescentes, enquanto o Cândido Portinari tem várias turmas de crianças e algumas de adolescentes que tem dificuldade de engajamento em qualquer atividade: esportes, lazer, reforço escolar. Tudo era feito com muita dificuldade, pois eles pareciam sempre cansados e entediados. 

 

Preocupado com o engajamento dos adolescentes no Cândido Portinari, Luciana conversou com a coordenadora Regiane:

 - Eu não sei mais o que fazer com o pessoal mais velho. Não tenho nenhum problema com as crianças, são agitadas, mas sempre formei turma sem problemas.

 

 - Qual é o repertório que vocês estão cantando?

 - Estamos só com músicas que eles gostam: pop, gospel e tem um trap também, mas eles não gostam de nada.

 

- E aulas de teoria musical ou rodas de conversa?

 - Pior ainda! Os poucos que vão, querem deitar nas cadeiras, reclamam o tempo todo.

 

- E se a gente levar os adolescentes da Carlos Gomes para cantar para os outros da Cândido Portinari? Podemos usar como divulgação para chamar novos alunos. O que você acha? Sei que vocês já tem repertório pronto.

 

- Olha, pode ser legal! Vou falar com os pais e as turmas. Será que elas vão gostar?

 

- Eu acho que vão curtir. Mesmo que seja perto, não deixa de ser um passeio. Você fala com o pessoal aí e eu vejo as questões de transporte por aqui.

 

Com transporte, autorizações e lanches confirmados, Luciana fez os combinados com a turma: saída do polo às 8h, vestindo uniforme e sem celular. Alguns protestaram, mas às 8h em ponto o ônibus partiu com aproximadamente 40 alunos empolgados, uniformizados e sem o celular. Foram conversando baixo, alguns levaram livros, mas nem abriram, outros cantando João Roubou Pão e nem sentiram falta do celular.

 

Chegando ao polo Cândido Portinari, as turmas foram alongar o corpo e aquecer as vozes e muito dedicados, já que no dia a dia das aulas, este ritual era feito com preguiça e reclamações diversas. Também fizeram o reconhecimento do palco, que era a quadra do polo e uma funcionária falou para outra:

 

- Ih, esquecemos as cadeiras para as crianças! Tem só para os adolescentes aqui. Os alunos ouviram e perguntaram para Luciana:

 

- Prô, a gente pode ajudar a arrumar as cadeiras?

 

 - Sim, podem. Façam com calma.

 

Os adolescentes arrumaram as cadeiras uma a uma, alguns carregando e outros organizando a plateia que estava para chegar.

 

Sem medo, os alunos se apresentaram para as crianças e adolescentes daquele polo. Estavam concentrados, sorridentes, confiantes e cantaram todo o repertório lindamente.

 

Durante a apresentação, Luciana pediu para os alunos Joaquim e Vitória compartilhassem com o público tudo o que o canto coral proporciona para eles.

 

 - Oi, gente! Me chamo Joaquim, tenho 14 anos e eu gosto muito das aulas de canto coral porque aqui eu consigo me expressar e eu fico muito feliz. Com certeza vocês vão gostar também.

 

 - Oi, pessoal! Eu sou Vitória, tenho 12 anos e o que eu mais gosto das aulas é que eu conheci novos amigos, músicas novas e me ajuda bastante a cantar na igreja.

 

A participação dos adolescentes foi um grande sucesso. Eles ainda entregaram certificados de conclusão de semestre ao polo anfitrião e almoçaram com as outras crianças.

 

 

Quando retornaram para o polo Carlos Gomes, a notícia se espalhou rapidamente pelas outras turmas. Todo mundo estava falando da apresentação externa do coral, todos queriam saber como foi aquela experiência. Foram tratados como mini celebridades no polo e todos muito felizes com o passeio e a experiência de se apresentarem. Já pediram outras datas para continuarem com a turnê e motivaram outros alunos para se inscreverem no curso.

 

Já no polo Cândido Portinari, todos os alunos e professores ficaram muito felizes com a visita, mas não motivou o tanto que Luciana esperava. Não aumentaram as inscrições e os poucos que ficaram na turma não iam a todas as aulas. A professora teve muitos problemas com o comportamento dos alunos, mas viu como a apresentação externa transformou os adolescentes de Carlos Gomes.

Para refletir

Com o objetivo de inspirar os adolescentes, Luciana levou outros adolescentes para se apresentarem, mas este grupo acabou muito mais inspirado. Será que o objetivo foi cumprido?

Porque os adolescentes anfitriões não se inscreveram para a aula de canto coral?

A iniciativa, que era para inspirar os adolescentes de Cândido Portinari, acabou incentivando ainda mais os alunos de Carlos Gomes. Este tipo de exposição é benéfica para alunos jovens? Porque?

Para saber mais

Pedagogia do exemplo

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